No espectro dos transtornos mentais, duas condições frequentemente confundidas são o transtorno bipolar e o transtorno de personalidade borderline. Embora compartilhem algumas semelhanças superficiais, como oscilações de humor, esses distúrbios possuem características distintas e exigem abordagens terapêuticas específicas. A seguir serão exploradas as características que distinguem essas condições, fornecendo esclarecimentos para aqueles que buscam compreender melhor esses transtornos.
O transtorno bipolar: uma jornada de altos e baixos
O transtorno bipolar, também conhecido como transtorno afetivo bipolar, é uma condição mental que afeta cerca de 6 milhões de brasileiros, homens e mulheres igualmente, geralmente na faixa etária entre 20 e 40 anos. Sua principal característica é a alternância entre dois estados de humor distintos: a mania (ou hipomania) e a depressão.
A mania e a hipomania
Durante a fase de mania ou hipomania, os indivíduos com transtorno bipolar experimentam um estado de euforia, energia elevada, pensamentos acelerados e comportamentos impulsivos, por vezes arriscados. Inicialmente, essa fase pode ser percebida como algo positivo, mas a longo prazo, pode prejudicar significativamente a qualidade de vida e as relações interpessoais.
A depressão bipolar
No outro extremo, encontra-se a depressão bipolar, uma fase em que o indivíduo perde o interesse e a motivação em praticamente todas as atividades. Essa fase pode durar semanas ou meses e representa um risco elevado de ideação suicida, especialmente se não houver tratamento adequado.
O desafio do diagnóstico
Muitos pacientes com transtorno bipolar enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico preciso, pois inicialmente podem não reconhecer os sinais de alerta ou acreditar que seus estados de mania sejam “normais”. Além disso, cerca de 50% dos casos são inicialmente diagnosticados apenas como depressão, o que pode levar a um tratamento inadequado se antidepressivos forem prescritos sem a devida consideração da bipolaridade.
O transtorno de personalidade borderline: instabilidade emocional crônica
Diferentemente do transtorno bipolar, o transtorno de personalidade borderline não é um transtorno de humor, mas sim um distúrbio relacionado à formação da personalidade do indivíduo. Embora os pacientes borderline também experimentem oscilações de humor, essas oscilações são mais instáveis em comparação com a bipolaridade.
A dificuldade no diagnóstico
Obter um diagnóstico preciso para o transtorno de personalidade borderline pode ser um desafio, pois muitos pacientes passam anos indo de médico em médico ou tomando medicamentos que não necessariamente surtem efeito. Durante esse período, eles podem ser estigmatizados e rotulados como “excêntricos”, “pessoas de temperamento forte” ou “pavio curto”.
A estruturação psíquica desarmônica
De acordo com o psiquiatra Diego Tavares, o comportamento instável dos pacientes borderline não é intencional, mas sim resultado de uma estruturação psíquica desarmônica. Eles tendem a exibir modos de funcionamento conflitantes e uma desarmonia em relação à forma como conduzem suas vidas em comparação com os outros.
A dificuldade em lidar com a frustração
Os pacientes com transtorno de personalidade borderline apresentam uma dificuldade significativa em lidar com a frustração. Eles frequentemente experimentam um vazio crônico e um medo intenso de serem abandonados, especialmente em relacionamentos amorosos. Essa dificuldade em regular emoções pode levar a comportamentos impulsivos e episódios de automutilação.
Diferenciando os transtornos
Embora tanto o transtorno bipolar quanto o transtorno de personalidade borderline possam envolver oscilações de humor e impulsividade, existem diferenças fundamentais que permitem distingui-los durante o processo de diagnóstico.
Velocidade das oscilações de humor
Uma das principais diferenças entre os dois transtornos reside na velocidade com que as oscilações de humor ocorrem. No transtorno bipolar, os episódios de mania e depressão tendem a ser mais prolongados e bem definidos, durando semanas ou meses. Por outro lado, no transtorno de personalidade borderline, as mudanças de humor são mais rápidas, instáveis e transitórias.
Gatilhos para as oscilações
Outro aspecto distintivo é a natureza dos gatilhos que desencadeiam as oscilações de humor. No transtorno de personalidade borderline, os agentes estressores estão frequentemente relacionados a questões interpessoais, como término de relacionamentos ou conflitos familiares. Já no transtorno bipolar, os gatilhos podem ser mais variados e não necessariamente concentrados apenas na esfera dos relacionamentos afetivos, podendo incluir fatores como problemas no trabalho, trânsito ou filas em bancos.
Histórico de vida e observação
Para obter um diagnóstico preciso do transtorno de personalidade borderline, é essencial analisar o histórico de vida do indivíduo desde a infância e a adolescência, período em que a personalidade se forma. Essa avaliação, que envolve a coleta de informações de familiares e amigos, é fundamental para identificar padrões de comportamento e distinguir o transtorno borderline de outros distúrbios.
Abordagens terapêuticas: caminhos para a recuperação
Embora os tratamentos para o transtorno bipolar e o transtorno de personalidade borderline possam envolver a utilização de medicamentos, as abordagens terapêuticas diferem significativamente entre as duas condições.
Tratamento para o transtorno bipolar
No caso do transtorno bipolar, o tratamento envolve geralmente a combinação de estabilizadores de humor, como lítio e lamotrigina, com antipsicóticos, como quetiapina, lurasidona e olanzapina. Esses medicamentos visam regular os episódios de mania e depressão, proporcionando maior estabilidade emocional.
Tratamento para o transtorno de personalidade borderline
Por outro lado, o tratamento para o transtorno de personalidade borderline tem como pilar fundamental a psicoterapia. Embora os medicamentos possam ser usados como coadjuvantes para atenuar oscilações de humor, a terapia é essencial para abordar as questões subjacentes relacionadas à estruturação da personalidade.
O papel da psicoterapia e do amadurecimento psíquico
No tratamento do transtorno de personalidade borderline, a psicoterapia é fundamental para ajudar os pacientes a desenvolver habilidades de regulação emocional, melhorar seus relacionamentos interpessoais e lidar com o medo do abandono. Com o tempo e o amadurecimento psíquico, muitos pacientes apresentam melhora significativa em seus sintomas.