Um indivíduo com transtorno de personalidade borderline (TPB) vivencia uma verdadeira montanha-russa emocional. Desde mudanças de humor até instabilidade nos relacionamentos e na autoimagem, esse distúrbio complexo permeia diversos aspectos da vida do paciente. Neste guia detalhado, serão exploradas as causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento para o TPB, oferecendo dicas para aqueles que enfrentam esse desafio ou apoiam alguém nessa jornada.
Prevalência do transtorno
Embora os números variem, estima-se que a prevalência média de TPB nos Estados Unidos seja de 2,7%, podendo chegar a 5,9% em alguns casos. Nos ambientes de internação psiquiátrica, essa taxa aumenta significativamente, atingindo cerca de 20% dos pacientes. Curiosamente, aproximadamente 75% dos indivíduos diagnosticados com TPB são mulheres, embora na população geral a proporção seja equilibrada entre os gêneros.
Causas e fatores de risco
Não existe uma causa única para o TPB, mas sim uma interação complexa de fatores genéticos, ambientais e fisiológicos que contribuem para o desenvolvimento do transtorno.
Fatores genéticos
Estudos mostram que parentes de pacientes com TPB de primeiro grau têm cinco vezes mais chances de desenvolver a doença do que a população geral. Esse componente hereditário sugere que certas pessoas podem ter uma predisposição genética a responder de forma patológica ao estresse ambiental.
Experiências na infância
Durante a infância, os traumas e dificuldades desempenham um papel importante no desenvolvimento do TPB. Histórias de abuso físico ou sexual, negligência, separação dos cuidadores e/ou perda de um dos pais são comuns entre pacientes com esse transtorno.
Fatores fisiológicos
Distúrbios nas funções reguladoras dos sistemas cerebrais e de neuropeptídeos também podem contribuir para o TPB, embora não estejam presentes em todos os casos. Essas alterações podem estar relacionadas a falhas no controle dos impulsos e das emoções.
Sintomas e manifestações
O TPB é caracterizado por uma instabilidade persistente nos relacionamentos, na autoimagem e nas emoções, bem como uma acentuada impulsividade. Para ser diagnosticado, o paciente deve apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas:
- Os esforços desesperados para evitar o abandono, seja físico ou mental
- Relacionamentos intensos e instáveis, alternando entre idealização e desvalorização do outro
- Autoimagem ou senso de identidade instável
- Impulsividade em aspectos que podem ser prejudiciais, como sexo inseguro, compulsão alimentar ou conduta imprudente
- Ameaças, comportamentos ou gestos repetidos de suicídio, ou automutilação
- Mudanças de humor rápidas, geralmente de algumas horas
- Sentimentos de vazio
- Raiva ou problemas para controlar a raiva
- Pensamentos paranoicos ou sintomas dissociativos graves causados pelo estresse
Além disso, esses sintomas devem ter se manifestado no início da idade adulta, embora possam ocorrer durante a adolescência.
Diagnóstico e diferenciação
O diagnóstico do TPB é realizado por profissionais de saúde mental qualificados, que avaliam o histórico e os sintomas do paciente. No entanto, é importante distinguir o TPB de outras condições, como transtornos do humor, transtornos de ansiedade, transtornos por uso de substâncias e transtorno de estresse pós-traumático.
Muitas vezes, o TPB é confundido com o transtorno bipolar, pois ambos envolvem grandes variações de humor e comportamento. No entanto, no TPB, as mudanças de humor ocorrem rapidamente em resposta a estressores, especialmente interpessoais, enquanto no transtorno bipolar, o humor é mais sustentado e menos reativo.
Outros transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade histriônica ou narcisista, também compartilham algumas características semelhantes, como a busca por atenção e o comportamento manipulador. No entanto, os pacientes com TPB geralmente apresentam uma autoimagem negativa, instabilidade nos vínculos e sensibilidade à rejeição, que são características proeminentes desse transtorno.
Opções de tratamento
O tratamento do TPB envolve uma abordagem multidisciplinar, combinando psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos para lidar com condições comórbidas específicas.
Psicoterapia
A base do tratamento para o TPB é a psicoterapia, que pode assumir várias formas:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Foca na desregulação emocional e na falta de habilidades sociais. Inclui a Terapia Comportamental Dialética (TCD), que combina sessões individuais e em grupo, e o Sistema de Treinamento para Previsibilidade Emocional e Resolução de Problemas (STEPPS).
- Tratamento Baseado em Mentalização: Ajuda os pacientes a regular eficazmente suas emoções, compreender como contribuem para seus problemas e desenvolver empatia e compaixão pelos outros.
- Psicoterapia Focada na Transferência: Concentra-se na interação entre paciente e terapeuta, permitindo que os pacientes desenvolvam um senso mais estável e realista de si mesmos e dos outros.
- Terapia Focada em Esquema: Combina a TCC, teoria do apego, conceitos psicodinâmicos e terapias focalizadas em emoções, visando modificar padrões mal-adaptativos de pensamento, sentimento e comportamento.
- Bom Tratamento Psiquiátrico: Uma abordagem para clínicos gerais, que envolve terapia individual semanal, psicoeducação e, ocasionalmente, medicamentos.
Medicamentos
Os medicamentos não são consistentemente eficazes para os sintomas centrais do TPB, mas podem ser úteis para tratar condições psiquiátricas comórbidas, como transtornos depressivos, ansiedade, instabilidade de humor e impulsividade. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs), estabilizadores de humor e antipsicóticos atípicos são algumas das opções frequentemente prescritas.
Manejo de crises e automutilação
Comportamentos autodestrutivos, como automutilação e tentativas de suicídio, são comuns em pacientes com TPB. O medo de ser abandonado ou decepcionado por um cuidador, ou parceiro amoroso leva geralmente a esses atos.
Em crises, é fundamental contar com uma equipe multidisciplinar preparada para lidar com essas situações. Dependendo da gravidade, a internação pode ser necessária para garantir a segurança do paciente e de outras pessoas.
Além disso, é essencial que os familiares e amigos próximos conheçam os sinais de alerta e tenham um plano de ação previamente discutido com a equipe de tratamento para saber como agir em emergências.
Prognóstico e melhora a longo prazo
Embora o TPB seja um transtorno desafiador, o prognóstico pode ser positivo, especialmente quando o paciente se engaja no tratamento. Com o tempo e a terapia adequada, muitos pacientes experimentam uma melhora significativa na estabilidade emocional, na capacidade de controlar impulsos e na qualidade dos relacionamentos.
Por volta dos 40 ou 50 anos, a maioria dos pacientes com TPB apresenta uma melhora substancial nos sintomas, e essa probabilidade aumenta ainda mais quando eles aderem ao tratamento de forma consistente.